É comum assistir a um telejornal ou ler uma notícia e se deparar com a sigla em inglês IPO. Nos últimos anos, o mundo das finanças ganhou muito mais espaço, e o universo da Bolsa de Valores já não é mais apenas a grandes investidores.
Por isso, termos como esse se tornaram cada vez mais comuns. No entanto, muitas pessoas que não acompanham o mercado financeiro — mesmo entendendo o contexto dessas notícias — ainda podem se perguntar: afinal, o que significam essas três letras?
Neste guia, vamos além do dia a dia para responder a essa dúvida tão frequente: o que é IPO?
O que é IPO e como funciona?
Nem toda grande ideia se transforma em um negócio de sucesso ou em uma empresa multinacional. Mas há vários exemplos fora da curva que saíram de uma garagem para se tornarem algumas das maiores companhias do mundo.
Imagine uma ideia que vira uma startup. Essa pequena empresa, com poucos funcionários, pode crescer exponencialmente, dependendo do mercado e da necessidade pelo seu produto ou serviço.
Chega um momento em que todo empresário se pergunta: “Será que abro o capital ou permaneço fechado?” É nessa dúvida que reside o significado do IPO, sigla para Initial Public Offering, ou Oferta Pública Inicial, em português.
Portanto, um IPO nada mais é do que o processo pelo qual uma empresa se torna disponível para que investidores possam aplicar dinheiro nela. Ou seja, qualquer pessoa com o à bolsa de valores pode investir em uma empresa que realizou um IPO e abriu seu capital.
Os investidores que destinam parte do seu patrimônio para comprar ações de uma empresa são chamados de acionistas. Quando a empresa é fechada, os acionistas existem, mas o controle sobre quem investe é .
Já quando uma companhia abre seu capital, os investidores podem entrar e sair do quadro societário em questão de segundos, por meio de operações na Bolsa. Assim, ao realizar um IPO, a empresa deixa de ser propriedade exclusiva de poucos e pode ter potencialmente dezenas de milhares de acionistas.
Como começar um IPO?
O processo de IPO não é simples. Primeiro, a decisão precisa ser discutida internamente com os acionistas que controlam a empresa no mercado fechado. Havendo consenso, o próximo o é cumprir as rígidas regulações do mercado financeiro, que veremos mais adiante.
Para celebrar a abertura de capital, a maioria das bolsas de valores no mundo realiza uma cerimônia especial. Na B3, a bolsa oficial do Brasil, a tradição segue o mesmo padrão de outros países: tocar um sino e receber uma chuva de papel picado.
Após todo o processo e essa celebração, a empresa pode se autodeclarar listada na Bolsa.
Viu como o significado de IPO ficou mais claro? Agora, vamos aprofundar ainda mais nos detalhes!
Para que serve um prospecto de IPO?
Entre os diversos documentos que compõem a papelada de um IPO, um deles merece destaque pela sua importância fundamental no processo de abertura de capital: o prospecto.
Basicamente, quando uma empresa realiza um IPO, há a necessidade legal de protocolar o prospecto junto ao órgão regulador do mercado de capitais. No Brasil, esse órgão é a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O prospecto contém todas as informações essenciais para que investidores interessados possam conhecer detalhadamente os aspectos relevantes da empresa que está oferecendo suas ações ao público. Isso inclui dados sobre a fundação da companhia, a equipe de gestão, o desempenho financeiro e quaisquer outros detalhes relevantes para a avaliação do investimento.
Mais do que reunir informações básicas, o prospecto tem a função crucial de expor e detalhar os riscos envolvidos no investimento. Essa transparência permite que os investidores tomem decisões conscientes, avaliando se vale a pena ou não aplicar recursos na empresa.
Existem duas versões principais do prospecto:
- Prospecto preliminar: disponibilizado antes do início do período de reserva das ações, apresenta os principais dados financeiros e informações sobre a empresa, mas não traz o preço final das ações nem o número definitivo de papéis a serem emitidos. Serve como uma primeira avaliação do interesse do mercado na oferta.
- Prospecto definitivo: divulgado antes do início do período de aceitação da oferta, já inclui o preço final das ações e o total de papéis que serão vendidos, além de eventuais ajustes decorrentes da precificação.
No prospecto, os investidores encontrarão informações detalhadas como:
- Modelo de negócio: descrição de como a empresa se posiciona no mercado, seus diferenciais competitivos, os produtos ou serviços oferecidos e por que é uma boa opção para investidores;
- Histórico da empresa: linha do tempo com os principais marcos e conquistas da companhia, ajudando a entender seu desenvolvimento ao longo do tempo;
- Detalhes financeiros: demonstrações claras dos resultados financeiros recentes, incluindo receitas, lucros e projeções, para avaliar a saúde econômica da empresa;
- Riscos: seção que detalha os fatores de risco relacionados ao negócio, ao mercado e ao ambiente econômico que podem impactar negativamente o desempenho das ações;
- Total de ações oferecidas e preço: no prospecto definitivo, é apresentada a quantidade total de ações que serão ofertadas e o preço unitário de cada uma.
A elaboração do prospecto pode ser feita internamente pelas equipes jurídica e contábil da empresa ou por terceiros especializados, geralmente bancos de investimento contratados para estruturar a oferta.
Esse documento é obrigatório e fundamental para garantir a transparência e a igualdade de condições entre todos os investidores, permitindo que cada um forme sua decisão de investimento de maneira planejada e consciente.
Vantagens e desvantagens de ter um IPO
Quando uma empresa abre seu capital por meio de um IPO, é comum que ela levante uma quantia significativa de recursos financeiros. Esse aporte pode gerar impactos positivos para os funcionários, como maior estabilidade no emprego e, em muitos casos, perspectivas de valorização salarial ao longo do tempo. No entanto, esses efeitos dependem da gestão e da cultura organizacional da empresa.
Com essa injeção de capital, o principal objetivo das companhias é expandir seus negócios, explorando mercados e oportunidades que antes seriam iníveis devido à limitação de recursos. Essa expansão é uma das grandes vantagens do IPO.
Por outro lado, uma desvantagem importante de se tornar uma empresa de capital aberto é a necessidade rigorosa de transparência. A companhia a a estar sujeita a exigências regulatórias e à fiscalização constante dos órgãos de mercado, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil. A falta de transparência ou falhas na comunicação podem prejudicar a reputação da empresa e, consequentemente, desvalorizar suas ações no mercado.
Entretanto, essa exigência de transparência também pode ser uma vantagem competitiva. Empresas que mantêm uma boa governança e comunicação clara com o mercado tendem a conquistar a confiança dos investidores, o que favorece seu crescimento sustentável, mesmo que, em determinados períodos, seus resultados financeiros não sejam tão expressivos.
O que realmente importa para a maioria dos investidores é a trajetória e a estratégia de longo prazo da companhia, não apenas o desempenho trimestral. Empresas que focam excessivamente em apresentar resultados positivos a curto prazo podem comprometer sua sustentabilidade e perder espaço para concorrentes mais estratégicos.
Portanto, as vantagens e desvantagens de abrir capital via IPO são relativas e dependem da postura da empresa diante das novas exigências. Organizações que encaram a transparência e a governança como oportunidades, e não como obstáculos, tendem a se fortalecer e a construir uma relação mais sólida e confiável com seus investidores.
Além disso, o IPO costuma demandar mudanças internas importantes, especialmente na área de recursos humanos. É comum que o quadro de funcionários cresça, novas áreas sejam criadas — como a de Relações com Investidores — e que haja uma profissionalização maior da gestão. O RH a a ter um papel estratégico, promovendo treinamentos, adequando políticas de remuneração e fomentando uma cultura de compliance e transparência.
Planos de remuneração variável, como stock options, também se tornam ferramentas importantes para atrair e reter talentos, alinhando os interesses dos colaboradores aos dos acionistas.
Por fim, o clima organizacional e o engajamento dos colaboradores são fatores decisivos para o sucesso do IPO e da empresa listada. Investir no desenvolvimento das pessoas e na comunicação interna ajuda a reduzir apreensões e a garantir que a companhia cresça de forma saudável e sustentável após a abertura de capital.
Tipos de IPO
Agora que já esclarecemos o significado de IPO e como ele funciona, conheça os principais tipos.
Oferta primária
Na oferta primária, a empresa emite novas ações que serão vendidas no mercado pela primeira vez. O capital captado com essa operação vai diretamente para o caixa da companhia, podendo ser utilizado para financiar a expansão dos negócios, investimentos em infraestrutura, desenvolvimento de produtos ou pagamento de dívidas. Essa é a forma mais comum de captação de recursos em um IPO.
Oferta secundária
Na oferta secundária, as ações vendidas já existem e pertencem aos atuais acionistas, como empreendedores, sócios ou investidores anteriores. Nesse caso, o dinheiro arrecadado com a venda das ações vai para esses vendedores, e não para a empresa. A oferta secundária não gera aumento de capital para a companhia, mas permite que acionistas realizem parte de seus investimentos e aumentem a liquidez das ações no mercado.
Oferta Mista
Também é possível que o IPO combine os dois tipos anteriores, com parte das ações sendo novas (primárias) e parte sendo ações existentes (secundárias). Assim, parte dos recursos captados vai para o caixa da empresa e parte para os acionistas vendedores.
Por que empresas fazem IPOs? Veja 3 motivos!
Existem mais de um motivo para a abertura de capital de uma empresa. Alguns deles são: liquidez, o a capital ou impulso na imagem da companhia.
1. Liquidez
O IPO oferece aos sócios e investidores iniciais a oportunidade de transformar suas participações em dinheiro, vendendo ações no mercado aberto. Isso facilita a negociação das ações e proporciona maior liquidez para os investidores, que podem comprar e vender suas ações com mais facilidade.
Os indicadores de liquidez são essenciais para isso.
2. Captação de recursos
Abrir capital é uma forma eficiente de captar recursos financeiros para a empresa. O dinheiro levantado na oferta primária pode ser usado para financiar a expansão, investir em novos projetos, adquirir outras empresas ou fortalecer a estrutura financeira da companhia. Em muitos casos, o IPO é uma alternativa mais barata do que empréstimos bancários ou outras formas de financiamento.
3. Reputação
O processo de abertura de capital exige que a empresa adote práticas rigorosas de governança corporativa e transparência, o que aumenta sua credibilidade perante investidores, clientes e o mercado em geral. Além disso, tornar-se uma companhia de capital aberto aumenta a visibilidade da empresa na mídia e no mercado, fortalecendo sua imagem institucional.
Como abrir capital na Bolsa de Valores com IPO?
Para abrir capital na Bolsa, o primeiro o é registrar a operação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e solicitar a listagem na Bolsa de Valores, recebendo o código de negociação das ações. Esse é o famoso ticker, formado por letras e números, como PETR4 (Petrobras) ou VALE3 (Vale), por exemplo.
Em seguida, forma-se um consórcio de instituições financeiras que vão coordenar toda a operação. A empresa, junto da instituição líder, elabora o prospecto da oferta, que, como vimos neste guia, contém informações essenciais para os investidores.
O preço das ações é determinado por meio do processo de bookbuilding, que considera a demanda e o preço máximo que os investidores estão dispostos a pagar.
Após os investidores fazerem suas reservas, o preço final da ação é definido e, se houver mais demanda do que oferta, as ações são redistribuídas.
Por fim, as ações começam a ser negociadas na bolsa e a cada dia o valor de mercado da empresa listada diminui ou aumenta conforme os papéis se valorizam ou desvalorizam.
Para abrir capital na bolsa, o primeiro o é registrar a companhia como empresa aberta junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado de capitais no Brasil, e solicitar a autorização para realizar a oferta pública de ações. Paralelamente, a empresa deve solicitar sua listagem na Bolsa de Valores, a B3, para que suas ações possam ser negociadas.
Após a listagem, a empresa recebe o código de negociação, conhecido como ticker, formado por letras e números, como PETR4 (Petrobras) ou VALE3 (Vale), por exemplo.
Em seguida, é formado um consórcio de instituições financeiras, chamadas coordenadoras da oferta, que serão responsáveis por estruturar e coordenar todo o processo do IPO. A empresa, em conjunto com a instituição líder do consórcio, elabora o prospecto da oferta, documento que contém informações detalhadas sobre a companhia, seus negócios, riscos e dados financeiros, essenciais para que os investidores possam tomar decisões informadas.
O preço das ações é definido por meio do processo de bookbuilding, no qual as instituições coordenadoras coletam as intenções de compra dos investidores, considerando a demanda e o preço máximo que estão dispostos a pagar. Com base nessas informações, o preço final das ações é fixado.
Após o período de reserva das ações, caso a demanda supere a oferta, as ações são alocadas proporcionalmente entre os investidores interessados, respeitando as regras estabelecidas para distribuição.
Por fim, as ações começam a ser negociadas na bolsa. A partir daí, o valor de mercado da empresa varia diariamente conforme a oscilação do preço das ações, que pode subir ou cair de acordo com a oferta e demanda no mercado
Acompanhe em tempo real a cotação das ações da B3
Requisitos para fazer um IPO
Para iniciar o processo de IPO, é fundamental seguir as recomendações da B3 e cumprir as exigências previstas na legislação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A empresa deve estar constituída como Sociedade Anônima (S/A), conforme a Lei das S/A (Lei nº 6.404/76), e apresentar demonstrações financeiras auditadas por auditor independente registrado na CVM referentes aos últimos três anos. No caso de empresas com menos de três anos de existência, todas as demonstrações financeiras desde a constituição devem ser auditadas.
Além disso, a companhia precisa nomear um diretor estatutário de Relações com Investidores (RI), responsável pela comunicação oficial com o mercado durante o processo de IPO e após a abertura de capital. Também é obrigatório possuir um Conselho de istração, caso ainda não exista, e definir o segmento de listagem na B3 onde as ações serão negociadas, conforme os critérios de governança corporativa e requisitos do mercado.
Todos esses requisitos são avaliados tanto pelas instituições financeiras contratadas para assessorar o IPO quanto pela B3 e pela CVM, que autorizam e fiscalizam o processo.
Como investir em IPO?
O primeiro o para investir em um IPO é ler atentamente o prospecto da oferta, documento que reúne todas as informações relevantes sobre a empresa, seus negócios, riscos e dados financeiros, permitindo que o investidor tome uma decisão informada.
Após decidir investir, o interessado deve ter uma conta em uma corretora de valores habilitada a operar no mercado de capitais. Por meio do sistema de negociação da corretora, conhecido como home broker, o investidor pode fazer sua reserva de ações durante o período destinado a isso.
Nesse período, chamado de período de reserva, o investidor informa a quantidade de ações que deseja adquirir e o preço máximo que está disposto a pagar pelos papéis. Essa etapa é fundamental para a formação do bookbuilding, que é o conjunto das intenções de compra registradas pelos investidores.
O bookbuilding é um processo em que os coordenadores da oferta analisam a demanda e os preços indicados para definir o preço final das ações e a quantidade que será efetivamente ofertada no IPO.
Após a definição do preço, as ordens de compra que indicaram um preço igual ou superior ao preço final são atendidas, enquanto aquelas com preço inferior são canceladas. A partir desse momento, não é possível cancelar a reserva.
Quando a demanda supera a oferta, ocorre o rateio, em que as ações são distribuídas proporcionalmente entre os investidores que manifestaram interesse, respeitando os limites definidos pela oferta.
No dia da estreia, as ações começam a ser negociadas na bolsa. Os primeiros dias costumam apresentar alta volatilidade, pois investidores compram e vendem os papéis conforme novas informações e notícias sobre a empresa são divulgadas.
Empresas que fizeram IPO na Bolsa brasileira nos últimos anos
Após um recorde histórico em 2021, quando 46 novas empresas abriram capital na B3, o mercado brasileiro de IPOs ou por um longo período de retração. Em 2022 e 2023, não houve nenhuma oferta pública inicial de ações, um hiato que não ocorria desde 1998. Esse cenário foi influenciado por um ambiente macroeconômico desafiador, marcado por alta inflação, aumento da taxa básica de juros para patamares acima de 13% ao ano e incertezas tanto no Brasil quanto no cenário internacional.
O ano de 2021 foi excepcional, com 46 IPOs e arrecadação de aproximadamente US$ 14,7 bilhões, impulsionados por juros historicamente baixos e grande apetite dos investidores. Entre as empresas que estrearam na bolsa naquele ano estão Smart Fit (SMFT3), Multilaser (MLAS3), Vamos (VAMO3), Espaçolaser (ESPA3), Intelbras (INTB3) e Getninjas (NINJ3), entre outras.
Em 2022, apesar da ausência de IPOs, foram realizados 17 follow-ons (ofertas subsequentes de ações de empresas já listadas), indicando alguma movimentação no mercado secundário, mas sem novas estreias.
A partir de 2024, o mercado começou a mostrar sinais de recuperação gradual. Com a taxa Selic em trajetória de queda, chegando a 10,5% em maio de 2024, e avanços em setores estratégicos como tecnologia, saúde, logística, construção civil, varejo, agronegócio e alimentos, mais de 60 empresas protocolaram pedidos de IPO junto à CVM ao longo do ano, configurando uma das maiores filas de ofertas desde 2021.
Apesar da retomada, o mercado ainda enfrenta desafios. Entre 2022 e 2023, o número de empresas listadas na B3 caiu de 449 para 436, com 13 companhias deixando a bolsa em 2023, o maior número dos últimos quatro anos. A volatilidade e a alta dos juros contribuíram para esse cenário.
Além disso, o desempenho das empresas que abriram capital em 2020 e 2021 tem sido, em média, negativo, com uma queda média de cerca de 54,6% no valor de mercado até 2024. Isso reforça a cautela de investidores e companhias em relação à abertura de capital em um ambiente econômico ainda incerto, com a expectativa de que a taxa básica de juros permaneça elevada até pelo menos 2026.
Em resumo, o mercado de IPOs no Brasil vive uma fase de transição, deixando para trás o pico de 2021 e caminhando para uma retomada gradual e seletiva, com maior foco em empresas sólidas, setores estratégicos e condições macroeconômicas mais favoráveis.
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