O ataque aéreo de Israel contra o Irã e a rápida resposta iraniana elevaram o grau de tensão geopolítica no Oriente Médio e sacudiram os mercados globais nesta sexta-feira (13). A escalada militar, que envolveu bombardeios a instalações do programa nuclear iraniano, aumentou a aversão ao risco, pressionou bolsas ao redor do mundo e trouxe de volta o fantasma da inflação.

No Brasil, o Ibovespa até ensaiou uma queda mais forte durante o pregão, mas o avanço de ações ligadas ao petróleo — como Petrobras, que subiu 2,46% — ajudou a segurar as pontas. O índice terminou o dia com leve baixa de 0,43%, aos 137.212 pontos, segundo dados preliminares. Na semana, no entanto, acumulou alta de 0,82%.

A disparada do petróleo (alta de 7%, mais detalhes adiante) tirou força do dólar ante o real – o óleo é um produto importante da pauta exportadora brasileira. Além disso, agentes aproveitaram as cotações mais elevadas na manhã e saíram vendendo. O dólar à vista fechou o dia praticamente estável, em leve baixa de 0,04%, aos R$ 5,5413.

Na semana, a divisa acumulou baixa de 0,52% e, no ano, recuo de 10,32%.

Lá fora, a aversão ao risco foi mais intensa: o Dow Jones despencou 1,8%, o S&P 500 recuou 1,1% e o Nasdaq caiu 1,3%. Investidores migraram para ativos considerados mais seguros, como ouro — que subiu ao maior nível em dois meses — e petróleo, que disparou mais de 7% no maior salto diário desde março de 2022. Isso porque cerca de 30% de todo o petróleo que circula no mundo a pelo Estreito de Hormuz, uma faixa estreita do Golfo Pérsico sob influência do Irã, que poderia ser bloqueada em caso de conflito mais amplo.

“Entendemos que seria extremamente difícil para o Irã fechar o estreito por um longo período, dada a presença da Quinta Frota dos EUA no Bahrein”, disse Helima Croft, chefe de estratégia global de commodities da RBC Capital Markets.

As ações de petroleiras e empresas de defesa, como ExxonMobil, Chevron, Lockheed Martin e RTX, subiram em meio à expectativa de aumento de gastos militares. Já os setores mais sensíveis a juros e consumo — como tecnologia e viagens — sofreram.

Disparada do petróleo

No final desta sexta-feira (13), poucos investidores tiveram a coragem de arriscar e entrar no fim de semana vendidos. Os contratos futuros do brent subiram até 13% na manhã de sexta e fecharam 7% mais altos, em torno de US$ 74 o barril.

“Quando há uma guerra em andamento, você não vai ficar vendido em nada no fim de semana“, disse Andreas Laskaratos, CEO da corretora de energia AB Commodities. “Embora os fundamentos não tenham mudado, você não pode negociar contra as manchetes durante o fim de semana.”

Operadores e analistas começaram a elaborar cenários de possível escalada ou desescalada assim que os primeiros mísseis israelenses atingiram o Irã. Laskaratos conta que seus operadores baseados na Europa estavam em suas mesas por volta das 4h30.

Analistas do Goldman Sachs elevaram suas projeções para o preço do petróleo nos próximos meses, entre US$ 2 e US$ 3 o barril, mas apresentaram cenários possíveis que variam de uma alta acima de US$ 100 o barril, no pior cenário, a uma queda abaixo de US$ 50 no próximo ano, no cenário mais pessimista.

Vista de plataformas de perfuração de petróleo no reservatório de petróleo Vaca Muerta Shale em Loma Campana, Argentina. Foto: Juan Mabromata/AFP/Getty Images

“O potencial de uma nova escalada no Oriente Médio implica que os riscos de curto prazo para nossa projeção de preços estão agora enviesados ​​para cima”, escreveram os analistas, incluindo Daan Struyven. Ainda assim, eles mantiveram sua projeção de que os preços cairão abaixo de US$ 60 até o quarto trimestre deste ano.

Um aumento nas negociações de opções de compra mostrou que muitos buscavam se proteger contra a possibilidade de uma alta nos preços. Entre as opções mais negociadas estavam as opções de compra que pagariam, se os preços subissem acima de US$ 85 o barril até 25 de junho.

Inflação global

Para os mercados, o temor é que uma alta persistente do petróleo reaqueça a inflação global, o que obrigaria bancos centrais como o Federal Reserve a repensar seus planos de corte de juros. O episódio também adiciona incerteza a um momento em que o mercado financeiro tentava se recuperar das perdas recentes provocadas pela guerra tarifária liderada por Donald Trump.

Por ora, a avaliação predominante entre analistas é que o conflito tende a permanecer regionalizado. Mas a continuidade das hostilidades — ou uma possível retaliação a ativos americanos — pode mudar esse cenário rapidamente. O risco está no ar — e os investidores voltaram a sentir seu cheiro.

Os últimos dois anos de crescentes tensões no Oriente Médio que impactaram no preço do petróleo mostraram que, quando os preços do petróleo dispararam, a duração foi curta. Enquanto Irã e Israel trocavam mísseis em abril do ano ado e novamente em outubro, o petróleo do Oriente Médio continuou a fluir para o mercado global sem ser afetado.

Ilustração sobre alta de inflação e projeção de mercado

Agora, o mais recente ataque de Israel está colocando a indiferença dos traders de petróleo à prova. Não houve impacto no fornecimento até o momento, mas as greves abalaram um mercado que, durante a maior parte deste ano, foi ofuscado por preocupações com um superávit iminente que poderia derrubar os preços, com a OPEP+ rapidamente desfazendo os cortes de produção e a produção aumentando em outros lugares, do Brasil à Guiana, enquanto a guerra comercial do presidente Donald Trump ameaça a demanda.

Mesmo que muitos acreditem que o mercado de petróleo possa escapar ileso, a incerteza generalizada sobre a firmeza com que o Irã responderá, se Israel lançará novos ataques e como os EUA reagirão está forçando os traders a precificar uma ampla gama de resultados possíveis.

Com informações de Bloomberg e Reuters